Místico The New York Times

Mapa em mãos, era preciso pegar o trem até o Times Square e descer perto do Museu Madame Tussauds. Quando percebi estava na Sétima Avenida e precisa chegar à Oitava Avenida, onde fica o prédio do The New York Times. Decidi perguntar a um, depois a outro e a um terceiro. A resposta foi sempre a mesma: não sei onde fica.

Certamente estava no lugar errado. Se o jornal fosse a duas quadras dali como meu mapa indicava, todos saberiam dele. Afinal a excelência do jornalismo feito naquele templo místico para repórteres e editores era conhecida e reconhecida mundialmente.

new-york-2009-0731De qualquer sorte, decidi ver para crer. E após duas quadras ali estava eu em frente ao imponente portal de entrada daquele suntuoso prédio de 22 andares, prestes a ser recebida com um crachá de jornalista com o meu nome para um workshop de Watchdog Journalism.

Na recepção, um simpático porteiro encontrou meu nome na lista, me entregou a identificação e me acompanhou até os elevadores. Eram oito. Na parte externa em vez de um botão para subir e outro para descer, havia os comandos para os 52 andares. Apertei no 15° e esperei o visor me indicar qual deles me conduziria direto ao meu destino.

Lá chegando a deslumbrante vista para o Hudson River me embeveceu. O marco zero, o new-york-2009-075prédio da ONU, o rio. Fiquei ali alguns minutos admirando. Em seguida fui interrompida por Stephanie, coordenadora do workshop. Ela se apresentou e engatou um convite para eu descer dois andares e pegar um café, já que havia chegado cedo demais.

Lá fui eu, prédio abaixo. A cafeteria/restaurante é praticamente um andar inteiro. Uma ilha de grelhados (no café da manhã faziam omeletes), outra de fiambres e laticínios, uma terceira de pães e cereais. E o melhor: o bar aceita cartão de crédito!

Um café latte e um iogurte com cereal depois, subi para o workshop que estava prestes a começar. Foi uma lição depois da outra: fontes, agendas, online/offline, questões jurídicas, imigração, notícias internacionais. Um encantamento sem fim. Não pelo conteúdo, até básico, mas pelos palestrantes que estavam ali a um metro ou dois de mim. Me senti num templo místico, como se estivesse realizando o sonho de encontrar os gurus. Estava entre os melhores do mundo na minha profissão, pelo menos no mesmo ambiente físico.

Mas nem meu deslumbre permitiu a cegueira. O painel sobre jornalismo em meio à crise foi baixo astral. O repórter David Gonzalez tentou descontrair:

_ Se tem algo bom na crise, é que ela resulta em boas pautas de economia.

Ele recomendou fugir do lead informativo e contar histórias de vida. O jornalismo é sobre pessoas, disse Gonzalez. Pessoas como ele, que trabalha há 18 anos no mesmo jornal e que hoje convive com a falta de anunciantes, a ameaça de extinção, o desinteresse dos leitores.

Uma pesquisa mostra que 42% dos americanos sentiriam “pouco ou nada se o jornal no qual o Gonzalez escreve fechasse. Entre eles, certamente estão aqueles três transeuntes aos quais eu pedi informações quando chegava ao NYT pela primeira vez. Eles não sabem onde fica e imagino que não se importem com a qualidade do jornalismo, são o retrato da não tão distante era pós-jornal impresso.

ps: escrevi depois de ler a triste realidade descrita pela Veja http://tinyurl.com/c6cyrp